Reportagem da BBC denuncia trabalho escravo em fábricas da Apple na China.

Trabalhadora dorme em posto de trabalho em fábrica de Xangai, na China, devido ao cansaço físico.

A Apple recorre a unidades de produção em países asiáticos, como a China ou Malásia, para produzir iPhones e iPads. Nos últimos anos foi acusada de não garantir os direitos dos trabalhadores das unidades estrangeiras que contrata, uma alegação que negou. Uma reportagem do programa Panorama, da BBC, revela agora a realidade dos operários de uma fábrica em Xangai, onde existem turnos de 12 horas, que podem chegar a 18, e onde a exaustão leva os trabalhadores a adormecerem nos seus postos. A Apple manifestou-se “profundamente ofendida” com as conclusões da investigação.

Em 2010, as condições de trabalho em fábricas na China contratadas pela Apple para o fabricação dos seus produtos foi notícia, depois de ter sido tornado público que 14 trabalhadores de um dos maiores fornecedores chineses da norte-americana, a Foxconn, terem suicidado. As mortes terão sido o resultado da pressão sofrida no local de trabalho para cumprir os objetivos da empresa. Na época, a Apple elaborou algumas diretrizes a serem cumpridas sobre a forma obrigatória de como os trabalhadores deveriam ser tratados e dividiu a produção entre a Foxcon e a Pegatron, situada nos arredores de Xangai.

Dois anos depois, o jornal The New York Times publicava uma investigação em que revelava que empregados de uma fábrica chinesa fornecedora da Apple trabalhavam em condições desumanas. Na noite de da última quinta-feira, a BBC exibiu uma reportagem onde é mostrada a forma como são tratados os trabalhadores chineses numa unidade da Pegatron, onde é produzido o iPhone 6.

Na mesma investigação da estação de televisão britânica, são mostradas imagens de crianças trabalhando em condições perigosas na ilha indonésia de Bangka, em minas ilegais de estanho que faz parte da cadeia de produção da Apple, segundo a reportagem programa Panorama.

Um jornalista trabalhou infiltrado numa fábrica que produz compartimentos para computadores Apple. Lá, fez um turno de 18 horas seguidas apesar de ter feito pedidos de descanso, todos foram negados. Um outro jornalista, cujo turno mais longo durou 16 horas, confessou que mesmo faminto não teve forças para se levantar e comer. “Queria apenas deitar-me e descansar. Não consegui dormir à noite por causa do stress”.

Fazer horas extras deveria ser voluntário, mas, segundo a reportagem, a nenhum dos seus jornalistas foi dada outra alternativa. As condições dos dormitórios destinados aos trabalhadores também são expostas na reportagem. Numa situação, um jornalista teve que dormir num quarto pequeno com 12 outras pessoas.

Além da China, a BBC encontrou irregularidades graves na Indonésia, como casos de trabalho infantil. Na ilha de Bangka, foram filmadas crianças, entre 12 e 14 anos, procurando estanho sem nenhum tipo de proteção, em zonas perigosas, sob iminente risco de desmoronamento de paredes de lama.

À reportagem, um homem que pertencia a um grupo que recolhe estanho na zona contou que o material é vendido a uma fundição que está lista de fornecedores da Apple.

60 horas de trabalho semanais

A empresa norte-americana recusou um pedido de entrevista da BBC mas emitiu um comunicado onde sustenta a sua posição sobre as conclusões da investigação.  “Sabemos que nenhuma outra empresa está fazendo tanto como a Apple para garantir condições de trabalho justas e seguras”, indica a nota citada no site da BBC. “Trabalhamos com os fornecedores para resolver deficiências e registramos uma melhoria contínua e significativa, mas sabemos que o nosso trabalho nunca está concluído”.

Ainda de acordo com a empresa, é normal os trabalhadores fazerem horas extras durante os turnos de trabalho, mas que iria investigar se nos casos mostrados na reportagem os trabalhadores tinham adormecido no seu posto de trabalho, como é visível nas imagens mostradas pela BBC. Também a Pegatron afirmou que irá iniciar o seu próprio trabalho de  averiguação.

A Apple garantiu que acompanha as condições de trabalho de mais de um milhão de pessoas e que no caso da Pegatron a média de horas de trabalho semanais são 55.

Quanto às minas ilegais de estanho, a empresa confirmou que 70% desta matéria é importada de pequenas minas e que não é possível determinar nas unidades de fundição se vem de uma mina ilegal ou não.

Num email enviado aos cerca de cinco mil trabalhadores britânicos, citado pelo jornal The Telegraph, o vice-presidente das operações da Apple, Jeff Willians, afirmou, em seu nome e no do presidente executivo da empresa, Tim Cook, que a norte-americana ficou “profundamente ofendida com a sugestão de que a Apple quebraria uma promessa feita aos trabalhadores da sua cadeia de fornecedores ou enganaria os seus clientes de alguma forma”.

Segundo Jeff Willians, a Apple compartilhou antecipadamente com a BBC os “fatos e perspectiva” do empenho da empresa no respeito dos direitos humanos, mas que o programa Panorama “claramente falhou” em transmiti-los na reportagem. Mas, o responsável frisa que a Apple confirmou o número de horas semanais de trabalho cumpridas por mais de um milhão de pessoas nas unidades que contrata e que 93% destas cumpriram o limite de 60 horas semanais impostos este ano.


Fonte: Público Pt

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