A Síria, um dos principais países do Oriente Médio, vive uma intensa guerra civil desde 2011, que já matou mais de 110 mil pessoas em quase três anos de conflitos entre forças do governo de Bashar al-Assad e bases opositoras, em uma revolta denominada Primavera Árabe. Nos últimos dias, no entanto, a tensão no país cresceu diante um possível ataque dos Estados Unidos à capital Damasco.
Em meio a crise politica que atinge o país asiático, o atacante Ewerson Batata se arriscou e buscou seu espaço no Al Ittihad Aleppo, um dos clubes mais populares da região. A passagem do atacante brasileiro no futebol sírio, no entanto, durou menos de uma temporada. A tensão e os frequentes ataques terroristas presenciados pelo atleta, fizeram Ewerson Batata, pai de uma menina de cinco anos, rescindir com o Al Itihhad e retornar ao Brasil. Em entrevista ao site LANCE!Net, o jogador, de 32 anos, relatou os momentos de pânico que presenciou no país do Oriente Médio e o que motivou seu retorno ao Brasil.
- Logo na primeira viagem pelo campeonato sírio, vi que não era seguro ficar mais no país devido atentados a bombas. Um dia cheguei de viagem e explodiu um carro bomba uma quadra da minha casa. Pela falta de segurança durante as viagens e dentro do país, me fizeram abrir mão de todo meu contrato e o rescindir para voltar para o Brasil. Afinal a vida não tem preço. Tinha a sensação de que a qualquer momento uma bomba poderia cair do meu lado e eu morrer, principalmente depois que explodiu um carro bomba uma quadra da minha casa. O medo era grande e o que me confortava era saber que Deus estava cuidando de mim - relatou Ewerson, que treinava sob o barulho de tiros.
- Quando estávamos treinando no estádio do Al Ittihad, os tiros rolavam solto poucos metros dali. Principalmente quando anoitecia, porque os confrontos eram sempre a noite. Ouvia vários tiros de arma que nunca tinha ouvido antes - afirmou.
O retorno de Ewerson ao Brasil acorreu de forma segura, após a rescisão de seu contrato, porém, outro companheiro de time não teve a mesma sorte. Dias depois de chegar ao Paraná, os confrontos em Aleppo ficaram mais intensos e um atleta do Al Ittihad foi vítima da guerra no país. O jogador foi assassinado ao visitar a família antes de sua transferência para o futebol da Jordânia, onde tinha acordado o contrato dias antes de ser morto.
- Dois dias depois que cheguei no Brasil, o lateral-esquerdo do meu time foi morto. Era o único jogador que havia sido negociado com um time da Jordânia. Eu ainda estava na Síria quando ele foi na Jordânia assinar o contrato. Tinha voltado apenas para ficar com a família na Síria, quando aconteceu. Há dois meses outro jogador também morreu em confrontos. Depois que sai de Aleppo, os bombardeios ficaram constantes, vi que Deus cuidou de mim enquanto eu estava lá - lamentou Ewerson.
O campeonato local está em sua 41ª edição e conta com 18 times divididos em dois grupos. O maior campeão do país é o Al-Jaish SC Damascus, com 12 título conquistados, enquanto o Al Ittihad conta com seis títulos, ocupando a terceira colocação entre os maiores campeões na Síria. Na temporada 2010/2011, o torneio foi suspenso devido o início das revoltas para tirar do poder o presidente Bashar al-Assad. Em sua passagem pelo campeonato, Ewerson descreveu que as partidas aconteciam às 12h, para que não houvesse a presença de torcedores nos estádios, devido a falta de segurança.
- O Campeonato em si, era muito difícil. Em cinco jogos pelo nacional, marquei quatro gols. Quando jogamos em casa o policiamento era normal, porque aconteciam às 12h, para que ninguém fosse no Estádio - relatou.
Ewerson Batata começou sua carreira no Malutrom-PR, hoje conhecido como Corinthians-PR, onde ficou por quatro anos. Após chamar a atenção no clube paranaense, o jogador acertou sua transferência para o New England Revolution, dos Estados Unidos. Uma temporada depois, o atacante foi para o futebol da Nicarágua, onde defendeu as cores do América. Antes de ir para o futebol asiático, o jogador de 32 anos, passou pelo São Bento-SC (2005), Cidade Azul-SC (2006) e Nacional-AM (2007), até acertar com o Al Oruba, de Omã por duas temporadas.
Em 2009, Ewerson acertou com o Xi Măng Hải Phòng, do Vietnã, clube onde teve como companheiro o ex-jogador Denílson, que atuou apenas em uma partida. Uma temporada depois, Ewerson foi contratado pelo Khaitan, do Kuwait, até que em 2011 chegou ao clube sírio Al Itihhad Aleppo.
RETORNO FRUSTRADO AO FUTEBOL BRASILEIRO
Após rescindir com o Al Ittihad Aleppo e retornar ao Brasil, o atacante Ewerson Batata recebeu diversas propostas para deixar o país novamente, porém, a proximidade com a família fez com o que o jogador rejeitasse as propostas do exterior e buscasse o recomeço no Brasil. Seu primeiro contrato foi com o Baraúnas, porém, o clube não cumpriu com os salários, fazendo o atleta de 32 anos rescindir seu contrato e acertar com o América, da terceira divisão paulista. No clube de São José do Rio Preto os atrasos voltaram a acontecer e Ewerson rescindiu novamente seu contrato, ficando sem clube.
- Depois da Síria e do susto, conversei com minha esposa e pensei em voltar a jogar aqui no Brasil. Não aceitei as propostas de fora do país e acertei para jogar o Campeonato Potiguar pelo Baraúnas, mas a falta de estrutura do clube e salários atrasados, fez com que terminasse meu contrato e fosse jogar o Campeonato Paulista A3 - afirmou o jogador, que criticou a falta de responsabilidade dos clubes de menor expressão do país.
- Sabia que pelo fato de estar muito tempo fora do Brasil e não ser muito conhecido aqui, teria que arriscar jogando num time pequeno para me destacar e sair para um time de Serie B no Brasileirão, mas foi besteira voltar a jogar no Brasil, porque o América Futebol Clube também não cumpriu com o que acordamos, mas uma vez fiquei sem receber. Infelizmente no Brasil é complicado para receber em times pequenos, acho que todos esses clubes tinham que fechar as portas - criticou.
Apesar de ainda se firmar no futebol brasileiro, Ewerson tem a prioridade de continuar no país ao lado de sua família, porém, o jogador vem mantendo contatos com clubes do exterior.
- Jogar no Brasil apenas se for para um time com estrutura, porque não posso me aventurar novamente e deixar minha família por sete meses e voltar sem grana para casa. Meus planos são voltar a jogar fora do Brasil. Estou em contato com alguns clubes e espero acertar logo alguma coisa, pois a vontade de jogar e balançar as redes é grande - finalizou o atacante.
Fonte: LanceNet!
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